sábado, 30 de julho de 2011
TRAVESSIA
ATRAVESSEI O FRUTO COM O LÍQUIDO DOS VERSOS
E DE SEGUIDA LIBERTEI O VENTO
DAS NUVENS E DAS AVES
PROCUREI A MATÉRIA QUE HÁ NA ALMA
SEM CRUZAR AS MÃOS
SEM QUEBRAR OS JOELHOS
ATRAVESSEI A NOITE LUNAR COM AS PALAVRAS
ESCRITAS NA SOMBRA
COM0 OS FLUXOS CADENCIADOS DA LUZ
REPETINDO AS PULSAÇÕES DO SISTEMA SOLAR
ADORMECENDO NA LEZIRIA
ONDE NASCEM AS COISAS MATERIAIS
SILENCIANDO OS MUROS NO POENTE
ATRAVESSEI A CINZA DA MADRUGADA
ONDE RASTEJAM OS VENTRES VAZIOS
PREDADORES DA HUMIDADE
QUE REVERTE DAS MÃOS ALADAS
ONDE NÃO SE CATIVAM DEUSES
E OS GESTOS SE PERDEM SEM RETORNO
NO INTERIOR DOS CAULES AMORTALHADOS
ATRAVESSEI OS DESEJOS
COM A NEVE CAINDO DAS MÃOS
E OS ABUTRES POR PERTO
segunda-feira, 25 de julho de 2011
D. Quixote
na longitude abissal de um grito
galopei
a saga das tempestades
amordacei
ventos e astros
venci
batalhas nas quimeras
remendei panos de velas
em moinhos mutilados
pelo orvalho dos sonhos
e das sombras emaranhadas
como fantasmas nos laivos dos olhares
combati de novo
contra as trevas
na hora do zénite
decepei monstros em duelos
e paradoxos em estocadas
de mestre de espadachim
despojei vertigens
flagelando a opacidade dos templos
faço agora o espólio dos estigmas
que me ficaram no pó
para aquém da girândola do vento
domingo, 24 de julho de 2011
Sons gémeos
gui
tarra
si
bi
la
n
do
nos gémeos
sons gemidos do
cordame de artérias
tangentes como corpo em sexo
tocando a noite na fluidez
das penumbras
da viela
sábado, 23 de julho de 2011
Cacofonia (a A.Ramos Rosa)
A cacofonia da poesia
baila bailando
com os tons dos sons
dum corridinho corrido
puladinho
marafado
cantado dançado saltado
com o mandador a mandar
e a roda
à roda
no baile mandado
com os cus no ar
das moças moçoilas ainda sem fado
e com muito a sonhar
mas só no altar
rodando mostrando
o alto da saia
e vá de virar
que as ancas girando
redondas de ondas
já fazem pensar
não há que parar
que os olhos dos velhos
relembram os tempos
e os lábios dos moços
já bailam beijando
a cacofonia
da moça moçoila
em cada folia.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Entre a Terra e a Lua
Vou partindo inacabado na vastidão
em gestos intemporais e divergentes
como os signos das palmas das mãos
Vou indo
sem saber a distância
e a rota azimutal do paradoxo azul
sem saber da origem e do fim
da simetria do tempo e da matéria
feita na têmpera das cadivas noites
de mistura verve e transe
no tropel do sangue e do nirvana das estrelas
Vou repartindo a voz e o seu timbre
nos quadrantes e quadrívios da razão
como sítio e simbiose
entre o corpo e a luz
como lago agitado
pelo lançamento de um pequeno seixo
que faz as ondas
Vou indo como vento
viajeiro dos gestos
que agitam as velas e os sons
cavalgando o sopro andarilho
de translação e desassossego
deste espaço de sítio e palco
onde o tempo é o chão
Vou partilhando a lama a vasa e a turfa
ilutado nos pântanos
e vou descendo as colinas
das minhas montanhas
onde renasço do pólen e do pó
em réplicas de palavras e vozes
que decantam a geada
para fazer o mel das noites
e o renascer das manhãs nos lugares
Vou bolinando as encruzilhadas
e semeando sílabas
neste espaço cislunar
onde se dilui a nitidez do rosto
em esboço úmbrico de máscara
e amálgama de glóbulos e éter
Vou indo
sem encontrar as palavras certas
que queria deixar na partida.
em gestos intemporais e divergentes
como os signos das palmas das mãos
Vou indo
sem saber a distância
e a rota azimutal do paradoxo azul
sem saber da origem e do fim
da simetria do tempo e da matéria
feita na têmpera das cadivas noites
de mistura verve e transe
no tropel do sangue e do nirvana das estrelas
Vou repartindo a voz e o seu timbre
nos quadrantes e quadrívios da razão
como sítio e simbiose
entre o corpo e a luz
como lago agitado
pelo lançamento de um pequeno seixo
que faz as ondas
Vou indo como vento
viajeiro dos gestos
que agitam as velas e os sons
cavalgando o sopro andarilho
de translação e desassossego
deste espaço de sítio e palco
onde o tempo é o chão
Vou partilhando a lama a vasa e a turfa
ilutado nos pântanos
e vou descendo as colinas
das minhas montanhas
onde renasço do pólen e do pó
em réplicas de palavras e vozes
que decantam a geada
para fazer o mel das noites
e o renascer das manhãs nos lugares
Vou bolinando as encruzilhadas
e semeando sílabas
neste espaço cislunar
onde se dilui a nitidez do rosto
em esboço úmbrico de máscara
e amálgama de glóbulos e éter
Vou indo
sem encontrar as palavras certas
que queria deixar na partida.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
PARTILHA DO CHÃO
Uma árvore
pode ser a reflexão
do corpo material que tomba
frente ao espelho azul
Senti hoje a crueldade
de derrubar uma árvore envelhecida
que eu próprio plantei
há anos
Senti que eu próprio também envelheci
cúmplice com o tempo
que levei comigo
entranhando o lenho
no verde de cada primavera
de que farei cinza
eterna
e da cinza
farei o negro da terra
flutuante em cada manhã
que irei habitar
adivinhando a mistura que farei
com a minha própria cinza
partilhando o mesmo chão.
pode ser a reflexão
do corpo material que tomba
frente ao espelho azul
Senti hoje a crueldade
de derrubar uma árvore envelhecida
que eu próprio plantei
há anos
Senti que eu próprio também envelheci
cúmplice com o tempo
que levei comigo
entranhando o lenho
no verde de cada primavera
de que farei cinza
eterna
e da cinza
farei o negro da terra
flutuante em cada manhã
que irei habitar
adivinhando a mistura que farei
com a minha própria cinza
partilhando o mesmo chão.
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