quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Caminhos duplos


Sinto o feitiço remoto
fluindo da memória do vento sulano
que me liberta
e aos membros fugazes
como caprichos de deuses ignívomos
em transe e alquimia
no uso do tempo

sinto o feitiço da poeira cálida
na leiva de astros cambiantes
e este cheiro imago a terra tangível
de mistura e ilusão
nas palavras institivas dos poetas
atalhando a alma ilutada

sinto o corpo transumante
e iço a âncora
e navego à bolina
com o vento de viés
cingido aos braços
desfaço-me do lastro sevandija
e sigo outros rumos que não sei
vadeando acamptos atalhos senoitados
onde passo alternadamente
como contrabandista do próprio ser
dissipando a raia nas águas do rio
dos inóspitos caminhos duplos

sinto o recomeço da travessia
na dúplice geometria dos planetas
irmãos de todos os exílios e desertos
onde o homem é apenas o itinerário
companheiro da própria sombra
e das dúvidas
que formam as brisas e as dunas
que sinto no feitiço
declinado na voz.


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