sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Gestos

Não é o fumo enegrecido
que me faz cegar
que me faz parar

mas sim o fogo
flamejante de ódio
contido nas palavras que envenenam
matando as ideias e alucinando o sangue
para corromper os gestos

não são os gritos ululantes
que me fazem ouvir
que me fazem sentir
mas sim o silêncio
em palavras sonoras
fundindo as ideias e o sangue
para fazer a transição dos gestos

não são os fósseis duros
cimentados nos fundos dos rios
que fazem a marca de água
em silhueta e neblina
nos meandros da medula
nem os sedimentos mestiços de paisagens
ou os signos dos deuses e flautas
em confronto de demos e tridentes
que fazem a derme onde abrigo os gestos

não são os meus sósias deambulantes
sobre a terracota misturando as horas
na profundidade do meu lenho
que fazem a eternidade das cinzas
restantes dos gestos

não são as longitudes do chão acampto
que fazem os trilhos dos antípodas
ou o orvalho nos olhares
tecendo o linho nas várzeas estéreis
onde o sopro vertical habita
que me fazem esgotar
os infusos gestos

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