quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ingredientes do sonho


Separo de mim os átomos
e renasço alógeno
imotável como os deuses arcanos


sem faróis portulanos
imaginando as manhãs amplas
colhidas ao sul nédio
na pele énea da brisa
tangendo o silêncio
perco a corrente
das noites misturando a respiração
e as ondas


no arfar undívago dos gritos
repito as palavras
em miragem fluctígena
do tempo petrificando os fósseis
que vou simulando
na lonjura do barro
e da luz incaptável
como as falenas penetrando as cores e as cinzas


e sigo
num rio sem horas
para além das flumíneas margens
desbravando
a virgindade dos gestos na vasa
fluindo das ideias


vou
reconstruindo estigmas que prolongam
a herança da carne em busca
de trilhos no chão físsil
vou
em gravitação sonâmbula de alquimia
de sonhos e sangue


por fim
no poscénio do corpo
separo
os revezos de mim cambiante
no verbo mestiço que sou
em ruído que resta
repetível
na agilidade dos ecos indizíveis
na seara das palavras exiladas.

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